Sweeny Toddy: O Barbeiro demoniaco do rua Fleet


Humor negro, sangue rubro - 08/02/08
Tim Burton não esconde a maldade humana e ainda cria clima propício para sua manifestação
Marcello Castilho Avellar
EM Cultura


Você pensava que já havia visto tudo no que se refere a situações macabras. Pensava que uma tragédia de William Shakespeare (como Titus Andronicus ou Hamlet, por exemplo) ou uma ópera romântica (tomemos La Gioconda, de Ponchielli, como referência) são sangrentas. Pensava que o cineasta Tim Burton havia chegado ao máximo do humor negro no desenho animado A noiva fantasma. Esqueça tudo isso. O novo filme de Burton, Sweeney Todd – O barbeiro demoníaco de Fleet Street, vai muito além de tudo o que você já viu em termos de macabro, de sangue, de humor negro.


Sweeney Todd é um barbeiro que foi injustamente condenado, porque sua mulher era cobiçada por um juiz. Retornando a Londres depois de anos de prisão numa colônia britânica, ele deseja apenas vingança. Informado de que a mulher tomou veneno e a filha foi adotada pelo arquiinimigo, Todd se associa à pasteleira Mrs. Lovett num macabro esquema capaz de levar à frente sua vendeta pessoal e salvar da falência a loja de tortas dela – com litros e litros de sangue, pescoços cortados por navalhas, e situações ainda mais desconfortáveis. Mas boa parte desse desconforto vem do fato de que se trata de um musical. Ou, mais exatamente, uma comédia musical.


Vingança e sangue, na opinião da maior parte dos espectadores, combinam mais com o drama e a tragédia que com o humor – basta ver clássicos como O Conde de Montecristo, de Alexander Dumas, ou Hamlet. Sweeney Todd é filho de linhagem menos nobre, como a comédia Jovem Frankenstein, de Mel Brooks, ou o musical Pequena loja de horrores, de Frank Oz. Ironicamente, o filme acaba nos mostrando que Hamlet e Pequena loja de horrores têm mais em comum do que os críticos gostariam. Ambos tratam da desmedida, da maneira como intenções aparentemente nobres se transformam em destruição generalizada quando não temperadas por algum limite. Sweeney Todd tem a lógica do musical ou da ópera: faz sentido e é verossímil, apesar de seus exageros, exatamente porque é, em sua maior parte, cantado. A música parece nos predispor a aceitar o universo ficcional, desde jovens que se apaixonam com um único olhar até pessoas que decidem se comportar como monstros.


A verdade do canto acaba ajudando o musical a transmitir sua mensagem. A peça original de Stephen Sondheim, estreada na Broadway há décadas, era mais política. Seu musical tem um jeito brechtiano, com canções que comentam não as cenas, mas as relações entre elas e o mundo. Tim Burton amenizou um pouco isso ao realçar a questão da vingança. Mesmo assim, o humor de Sweeney Todd opera como pedagogia moral. É um filme em que praticamente todas as personagens têm algum tipo de maldade. Johanna e Anthony (a filha de Todd e seu pretendente) parecem manter a pureza – mas Anthony será responsável por uma das vinganças mais tétricas do filme. Estranha interferência do cinema: no teatro, era Johanna que se transformava numa assassina na mesma cena.


Com tudo isso, não é gratuito o fato de que a magnífica fotografia de Dariusz Wolski caminha rumo ao sépia escuro ou ao preto-e-branco. Todd, Mrs. Lovett ou o Juiz Turpin são como fantasmas, pessoas já mortas, movendo-se num mundo não menos fantasmagórico. Nesse contexto, todo futuro só pode ser sombrio: “Nós todos merecemos morrer, mesmo você, Mrs. Lovett, mesmo eu”, diz o barbeiro demoníaco a sua companheira, definindo uma realidade onde até mesmo o bem parece condenado.






Cinza! Essa é a cor do filme... acho que o ideal é ver o filme... quem gosta de musical deve assistir, que não gosta deve assistir pois esse é um bom filme...

E quem gosta de Harry Potter deve assistir também, pois é uma otima oportunidade de ver o Snape, Rabicho e Belatriz em outras atuações...

Comentários