Ensaio sobre Cegueira


Absurdo! De tão bom o fim chega a ser absurdo... Essa foi a palavra que ficou na minha cabeça quando sai do cinema....
Para começar, fiquei pensando o porque do cinema estar tão cheio em plena terça-feira... Será a qualidade do filme? Ou Diretor e Atriz brasileiros no filme? Semana de estréia? Só na semana seguinte que fui me tocar que era por causa da nova promoção do Shopping Cidade. Já tava achando estranho se uma das perguntas acima tivesse resposta positiva, pois a massa não tem o costume de aparecer em peso em dia de semana - a menos que seja para responder ao apelo das propagandas das grandes franquias - e que fique claro que não estou menosprezando o "povo"... mas nada disso tem real importância no momento.
O fato que esse "fenômeno" me propiciou um tempo considerável na incomum fila, e fiquei pensando na implicações que uma cegueira coletiva poderia causar... e sinceramente não cheguei nem perto das reais possibilidade! Claro que fui ver o filme já sabendo de um ou outro fato (como a forte cena do estupro que foi retirada do filme; o fato do Fernando ter insistido em filmar no Brasil, trabalhando com a O2 produções, e uma ou outra coisinha...), mas saí de lá com um outro significado para o velho ditado: "em terra de cego, quem tem um olho é rei".

O filme é pensado, tenso e ao mesmo tempo belo (é belo)! Acho que nunca cheguei a pensar realmente o quão o ser humano pode ser "mais animal" quando retirada as condições "básicas", e sei o quanto ser humano pode agir por instinto. Porém nessa história, Saramago "cospe" na nossa cara quanto nossa sociedade nos torna cruel ao mesmo tempo que nossas relações se superficiazam. (esse é um ponto que li nesse filme)
Mas é estranho pensar que conceitos, que hoje são básicos, podem perder com facilidade o valor. Ex: o momento em que o médico tenta convencer o pessoal da ala 3 a enterrar os mortos. Resultado: fracasso total da democracia e diplomacia.
E com um leve toque de egoísmo em contra-ponto a idéia do bem comum, fica claro que assim como no reino animal os mais fortes sobrevivem (Darwin? Capitalismo Selvagem? Seleção Natural? Ou simples e puro Instinto ?), uma linha tênue - se tiver em vista o ambiente comum a todos no filme - que separa esse dois conceitos.

Mas então o que faz o homem ser diferente do animal? Sinceramente não sei, tanta pessoas já escreveram sobre tal assunto e ainda assim existem contradições; não sou filósofo, metafisico ou possuidor da 'resposta', mas arrisco a dizer que seja por caso do amor (apesar de preferi outra palavra:Ágape). E é esse sentimento comum que liga todos da ala 1 e que também move a personagem principal (a única que ainda enxerga), é que nos diferencia como um seres "racionais" - [sinceramente, essas linhas são muito discutíveis, não quero entrar no mérito da discussão, mas sim tomar o que escrevi como bases mais 'simplistas' para tentar o sentimento que esse filme gerou em mim - se é que deu para entender isso...]

De uma forma geral, é fácil assistir o filme com um certo distanciamento. Já que todo aquele ambiente claro/cinza nos deixa sempre há um segundo de nos lembrar que tudo aquilo é ficção - afinal quem conhece alguém que passou pela mesma situação?
Porém, os sentimentos ali inserido são reais e é no único momento do filme em que as cores se invertem, do claro para o negro, é que vemos o quão real aquilo é (ou pode vir a ser); e é nesse momento que acredito que as pessoas se sentem mais incomodadas com a história....

Sinceramente acho que não estamos nada longe daquele ambiente (literalmente), mas o belo final do filme também deixa uma esperança....

Adorei o filme, já tá na minha lista de melhores filme que fui no cinema ver esse ano e o recomendo à todos que não assistiram... E claro que estou louco para ler o livro, que dizer ser o muito mais pesado que o filme...

E para não falar que só coloco resenhas que estão afinadas com a minha opinião, logo abaixo está um texto de "críticos da arte" respeitáveis




'Ensaio sobre a cegueira' é deprimente, diz 'Times'
Plantão | Publicada em 15/05/2008 às 08h33m
BBC

O filme de Fernando Meirelles, Ensaio sobre a cegueira, baseado na obra homônima do escritor português José Saramago e que abriu o Festival de Cinema de Cannes na quarta-feira foi descrito por um crítico britânico como "deprimente".
Foi "a abertura mais deprimente para um festival internacional que eu já vi" , escreveu James Christopher, do jornal britânico The Times.
"Depois da glamurosa esteira rolante de estrelas no ano passado, para comemorar os 60 anos sensacionais de estréias de filmes artísticos, o festival apagou as 'luzes de Natal', apertou o cinto e voltou ao austero negócio de mostrar os auto flagelados diretores-autores do futuro", escreve o crítico, para quem a noite de abertura foi "um choque azedo e inesperado".
"Ensaio sobre a cegueira não vai obter fãs. Mas muitos admiradores entrincheirados", afirma o crítico, para quem o filme deve agradar ao presidente do júri, Sean Penn, por que seria o tipo de filme "de apelo a um ator idealista".
Para o crítico, o filme é ambicioso e algumas cenas de ruas são tão bem feitas que chegam a ser "itens de colecionador", mas ele critica a atuação dos atores.
O jornal argentino La Nación disse que o filme foi recebido com "muita frieza", mas se trata de um exemplo da crescente globalização cinematográfica, destacando que muitas análises em Cannes compararam a produção - que fala da degradação da sociedade durante uma epidemia de cegueira que assola uma cidade - a desastres naturais como o causado pelo "furacão Katrina, a fome da Somália e os excessos na Guerra do Iraque".
Mas o jornal afirma que, apesar do profissionalismo e dos desafios assumidos por Meirelles, "o filme é bastante óbvio em sua apresentação de um universo sórdido e em sua denúncia da manipulação, da miséria e da precariedade da sociedade contemporânea. Além disso, não consegue transmitir os climas e a emoção que levaram o romance original publicado em 1995 pelo ganhador do Prêmio Nobel à consideração mundial".
O La Nación ressalta que Meirelles tentou filmar o romance vários anos antes, mas Saramago se recusou a vender os direitos do livro durante anos porque, segundo o escritor, "o cinema destrói a imaginação". "Em vista do medíocre resultado final do filme, o notável autor de O Evangelho Segundo Jesus Cristo tinha razão", afirma a reportagem.
Já o crítico do jornal britânico The Guardian deu ao filme quatro estrelas, descrevendo Ensaio sobre a cegueira como "um pesadelo apocalíptico adaptado de um romance de 1995 do vencedor do Nobel José Saramago e dirigido por Fernando Meirelles, que nele encontrou a exposição brutal da lei da selva das favelas que vimos em seu filme de 2002, Cidade de Deus".
"Ensaio sobre a cegueira é um drama com imagens soberbas e alucinatórias de colapso urbano. Tem uma linha de horror em seu centro, mas se torna mais leve pelo humor e gentileza", afirma o crítico Peter Bradshaw.
Para mais notícias, visite o site da BBC Brasil


FONTE: O Globo


P.S: para que quiser uma critica mais positiva, entra no blog: Cinematoca

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