Feliz Natal

Feliz Natal, o primeiro longa-metragem de Selton Mello, coloca o espectador na posição de observador incômodo do cotidiano de uma família que, sem piedade, encena, até o limite do patético, os seus dramas. Desde o primeiro momento, quando o filho afastado da convivência familiar, dono de um ferro-velho, sai de casa para ir a um jantar e a um almoço natalinos, já se faz presente o pesadelo que vem pela frente. Ao longo de hora e meia, o que se vê na tela é exatamente isso. Situação levada ao paroxismo com imagens pesadas e atmosfera asfixiante, em ambiente de degradação. Há poucas informações sobre os personagens e os motivos de tanta violência. Tudo mostrado em detalhes, sem piedade, focalizando cada embate com objetividade até cruel.

É um filme tão ácido que, em certos momentos, até pelo tom algo onírico da fotografia, rompe-se o "realismo" e torna-se imersão em relações simbólicas, em universo de fantasmas familiares. O enfoque inicialmente surpreende pelo fato de adotar abordagem que é o avesso de muitos filmes natalinos, quase sempre caricaturais, melosos. Chama a atenção a boa fotografia, sombria, a câmera minuciosa e precisa que consegue captar a "alma" dos personagens, criando moldura adequada ao projeto de Selton Mello. Também é ótima a interpretação dos atores, de todos eles, tanto os que têm pequenas participações quanto os que protagonizam a história. O fato de o filme se ater ao grupo e não a um personagem colabora para isso.

Quem brilha é o veterano Lúcio Mauro, em papel dramático, deixando a impressão de ator pouco explorado pelos diretores brasileiros. Tudo certo, mas, a medida que o filme avança, assim como os méritos, as limitações se tornam evidentes. A principal delas é a carência de roteiro, no sentido de, a partir dos elementos postos em cena, criar obra que não seja só ruminação infindável de conflitos familiares. Sem se desenvolver, Feliz Natal fica prisioneiro do que é o ponto de partida, sem conseguir materializar um contexto dramático mais completo. Problema que acaba trazendo outro: não ir além do lugar comum, da ameaça onipresente do estereótipo.

Feliz Natal é o primeiro filme do diretor e, portanto, traz mistura de qualidades e questões que só outros trabalhos poderão deixar mais claras. Falando do trabalho, Selton explicou que se trata de obra que, apresentando personagens e situações com muita intimidade, torna palpável as dores deles. Ele se diz movido pelo desejo de fazer filmes fortes e de poesia densa, autorais. E afirma ter feito obra de ator-diretor, como são as do norte-americano John Cassavetes, não só patriarca dos independentes como cineasta particularmente dotado para captar os "brancos" dilacerantes do ser humano.

Fonte: Porta Uai.



Um Filme de SELTON MELO! Só isso já é o suficiente para ir assistir. Dessa vez não vou escrever muito, pois a crítica acima reproduz o que eu penso - com exceção do que é visto como problema, pois eu abro a possibilidade de essa ser a inteção do diretor....

Para quem está acostumado com filme de "fácil entedimento" não vai gostar do filme, mas assista para poder falar que é ruim(!); além do mais é o primeiro filme de natal que se aproxima da realidade (pelo menos da realidade que eu conheço)... e aquela câmera "nervosa" faz valer à pena assistir!...



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