Persépolis



Persépolis (Persepolis, França/EUA, 2007)
Dirigido por Vincent Paronnaud, Marjane Satrapi
Com as vozes de Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve, Danielle Darrieux, Simon Abkarian, Gabrielle Lopes


Obra autobiográfica co-realizada pela iraniana Marjane Satrapi a partir de sua graphic novel igualmente autobiográfica, Persepolis é um filme delicadíssimo e divertido que, ambientando num país sacudido por uma revolução interna e, posteriormente, por uma guerra sangrenta com o Iraque, acompanha a trajetória de uma garota que, depois de uma infância feliz na qual a instabilidade política era percebida através de um véu de ingenuidade, é enviada pelos pais para morar na Áustria. Lidando com as mudanças em seu corpo e com a descoberta do amor, Marjane Satrapi (dublada de forma adorável por Gabrielle Lopes na infância e por Chiara Mastroianni na fase adulta) sente uma forte culpa pela futilidade que enxerga em sua existência ao mesmo tempo em que deve suportar o preconceito que enfrenta em função de suas origens.

Abordando até mesmo o estupro sofrido pela protagonista, Persépolis poderia ser um drama rodado em tons grandiosos e embalado por uma trilha melosa, mas, em vez disso, surge surpreendentemente como uma animação não apenas poética, mas politicamente carregada, merecendo figurar, ao lado de O Túmulo dos Vagalumes, como uma das grandes produções adultas do gênero.

Realizado praticamente em sua totalidade em um marcante preto-e-branco, o longa conta com um design de produção impecável, desde o visual expressivo dos personagens aos cenários marcantes, investindo especialmente em seqüências que, em silhueta, trazem incidentes particularmente fortes do ponto de vista dramático, como um protesto da população que encontra uma dura repressão em seu caminho. Ainda assim, apesar do tema carregado, Persépolis encontra a leveza ao apresentá-lo a partir do ponto de vista de sua jovem e encantadora (embora falha) protagonista.

Contando com claras influências expressionistas (em certo momento, há uma referência especialmente eficaz a “O Grito”, de Munch), o filme traz ainda uma ótima trilha sonora que, com seu bom humor peculiar, traz até mesmo uma interpretação hilária de “Eye of the Tiger”. E se a conversa entre Deus e Karl Marx não for o suficiente para estabelecer esta obra como uma das melhores do ano, certamente sua discussão sobre o abandono dos ideais em função do medo (algo com o qual toda ditadura conta) a qualificará como tal.

Representante da França na corrida ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2008, Persépolis (sobre o qual voltarei a escrever) é um longa abrangente, profundo, didático e, acima de tudo, profundamente tocante. (5 estrelas em 5)


por Pablo Villaça, site Cinema em Cena



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