Quem quer ser um milionário



O filme começa. As opções para o desfecho da história são projetadas na tela. Um menino sendo torturado. Muitas cores. Edição rápida. Um programa de TV. Tudo isso é só o começo, mas o espectador já foi fisgado. Agora se segure na poltrona e sinta a adrenalina.

Jamal mora com a mãe e o irmão, Salim, em uma favela de Mumbai, Índia. Aos 18 anos, o servidor de chá de uma operadora de telemarketing, consegue participar de um programa de perguntas e respostas, “Who Wants To Be A Millionaire?” (a versão estrangeira do “Show do Milhão”, a música é até a mesma) e ir até a última pergunta, valendo 20 milhões de rúpias (moeda corrente na Índia), mas antes de respondê-la é preso por suspeita de fraude. Como um mero morador de favela, sem estudo, sem acesso à cultura em geral consegue responder perguntas que Mestres, Doutores, gênios não conseguiram responder em seqüência? Essa é a grande pergunta até o momento, mas com o desenrolar da história entendemos como isso é possível. Coincidentemente as perguntas foram respondidas ao longo de sua vida: cada uma delas remete a algum momento marcante pelo qual Jamal passou, sozinho ou acompanhado. Seja a morte da mãe ou um simples ato de doar dinheiro, está tudo lá em sua trajetória.

A edição tem um papel muito importante na trama: é ela que amarra o presente ao passado. As perguntas do programa são entrecortadas por imagens do passado de Jamal, que mostram como o menino vivenciou a resposta a ser dada. Edição essa que lembra bastante a do filme brasileiro “Cidade de Deus”, com cortes rápidos e câmeras no meio da ação. Além disso, outra parte fundamental do filme são as cores. Os diretores de arte e fotografia usam e abusam das cores, que dão um visual todo especial e bonito à fita.

A Índia tem muitas similaridades com o Brasil. Ambos são países em ligeira expansão econômica, convivem lado a lado a alta burguesia e os favelados (slumdogs), além de haver um forte poder paralelo e ser onde os países ricos fazem enormes investimentos. É bastante visível a ocidentalização da Índia com passar do tempo. As favelas e os campos dão lugar a imensos prédios comerciais, empresas estrangeiras se alastram pelo país e o inglês é cada vez mais falado pela população indiana – fato esse muito bem explorado pela equipe do filme, uma vez que os personagens em sua infância falam o dialeto local mas, à medida que o tempo passa, eles e as pessoas a sua volta começam a se comunicar quase que inteiramente em inglês, o que não costuma acontecer na maioria dos filmes hollywoodianos nos quais japoneses, franceses e turcos sempre falam inglês desde o nascimento.

O filme é um thriller misturado com romance: há bastante ação (desculpe, mas não há matança desenfreada, mesmo com as brigas entre “facções” rivais na cidade) e ao mesmo tempo, uma bela história de amor entre Jamal e Latika (conhecida na infância, mas amada até o fim), que muitas vezes é interrompida, por motivos fora de seus alcances.

O diretor Danny Boyle (”Extermínio”, “Trainspotting”), com a ajuda de um elenco competente, consegue fazer o tipo de filme que todos deveriam ver, que será lembrado por muito tempo. Ele nos mostra que devemos viver com otimismo, não importando nossa situação e que o fim já está escrito, só nos resta tentar fazer com que a caminhada até ele seja segura e feliz.

O filme concorre a 10 Oscars e é o favorito na categoria de Melhor Filme (foi vencedor do Globo de Ouro). É também o meu favorito. Estréia por aqui em 6 de Março.

FONTE: http://rockinpress.wordpress.com/2009/02/22/resenha-quem-quer-ser-um-milionario/


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