X-men origens: Wolverine



A revelação das origens de Wolverine, personagem da Marvel, foi um dos grandes achados na história do marketing dos quadrinhos. O sucesso de Wolverine não foi algo previsto – ele surgiu como mero coadjuvante numa história do Hulk publicada em 1974, e pegou a editora de surpresa, porque as cartas de leitores sobre a narrativa não falavam quase nada do Gigante Verde, praticamente só pediam a volta do baixinho invocado. Com isso, ele se tornou personagem permanente nas séries da Marvel, como integrante dos Novos X-Men a partir de 1975.

Como não se previa a aparição de Wolverine depois de suas duas primeiras histórias, seus criadores nem ao menos pensaram em lhe dar um passado. Com o sucesso, começaram a construí-lo. E descobriram que poderiam transformar a omissão anterior em trunfo para conquistar leitores por meio do suspense. Ao longo dos anos seguintes, foram espalhando pistas, muitas vezes contraditórias, para uma possível história sobre o passado do herói. Finalmente, a consolidaram numa minissérie, que, como esperado, foi um dos grandes sucessos na trajetória da editora, Origens, lançada em 2001. O filme X-Men origens: Wolverine, de Gavin Hood, tenta construir uma síntese dessa história sem perder de vista as possibilidades de participar, a longo prazo, de construção mitológica análoga à que foi produzida nos quadrinhos.

As dificuldades para essa construção são muitas. Para o público que não conhece os quadrinhos, a série de cinema ainda é relativamente curta – Wolverine é apenas o quarto filme da grife X-Men, e o primeiro foi lançado há apenas nove anos, algo irrisório perto das quase três décadas que os roteiristas da Marvel tiveram para espalhar pistas sobre o herói. Em nome da síntese, por exemplo, o filme desistiu da possibilidade de que as memórias “contemporâneas” de Wolverine fossem, na verdade, implantes mentais. Em compensação, a obra abre boas portas para outros filmes que tenham a personagem como protagonista: insinua, por exemplo (como os quadrinhos fizeram durante anos antes de confirmarem o fato) que Wolverine é bem mais velho do que parece, abrindo espaço para enredos anteriores aos episódios mostrados em X-Men origens: Wolverine. E retoma a questão, já superada nos quadrinhos, de um possível parentesco entre o herói e seu mais célebre rival, Victor Creed (que os fãs de quadrinhos conhecem melhor pelo apelido Dentes-de-Sabre), deixando, novamente, o território livre para outras tantas tramas.

Para os fãs dos X-Men nos quadrinhos, Wolverine renova o prazer de encontrar em movimento personagens que sempre vimos como imagens estáticas. Além de Creed, o filme apresenta personagens clássicas que ainda não haviam sido desenvolvidas na série, como Blob e Gambit, e nitidamente inspira a Arma XI (Wolverine seria a dez) em Mímico. Para quem só conheceu o herói na série de cinema, o filme garante a chave para melhor compreensão dos fatos apresentados em X-Men 2, além de oferecer relances sobre o passado de Charles Xavier e sua escola, ou de Cíclope.

No fim das contas, X-Men origens: Wolverine não faz feio perto dos outros filmes da série. Seu ritmo é vertiginoso, os efeitos visuais compõe imagens expressivas. Como resultado, ele pode agradar até mesmo quem só agora estiver descobrindo Wolverine ou os X-Men: o enredo do filme é capítulo autônomo da série, com começo, meio e fim, portador de todas as informações necessárias a sua compreensão. Se os veteranos nas narrativas dos heróis mutantes vão se divertir com as referências, os novatos terão diante de si um competente filme de ação que lida bem com suas questões dramáticas.

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