Antes de morrer quero ver o mar...

Titulo poético esse. Mas para  por aí, já que quando ouvi essa frase agora a pouco não foi nisso que pensei A situação me deixou em um estado reflexivo...

Hoje eu ia escrever sobre o Barbeiro de Sevilha, mas enquanto esperava o ônibus para vim para casa vi uma situação interessante. No ponto da Praça 7 tem um lugar onde fica a caixa/cadeira de um engraxate, tinha uma senhora sentada lá. Um pouco depois chega um homem e conversa com ela, troca alguns objetos, e se levantam para esperar o ônibus.

O homem do nada inicia uma conversa com uma moça que esperava ônibus. Estando um pouco atrás pude observar com calma. A moça inicialmente se manteve na defensiva, (afinal, cidade grande, próximo a meia-noite, segurança zero...), mas logo mudou de atitude, abaixando a guarda. Afinal, o camarada não iria lhe oferecer perigo. Era um homem extremamente simples, um sorriso largo, alguns dentes faltando, roupas surradas, uma muleta atravessada na cintura e acompanhada da irmã já senhora (aquela sentada na caixa/cadeira de engraxate). 

O homem não parava de falar, mas deu para ver uma animação nele que me surpreendeu (e me envergonhou um pouco). Ele está trabalhando no cinema do Diammond, e se estava empolgado com o fato de estar recolhendo os óculos 3D e trabalhar usando rádio ou ponto no ouvido pela primeira vez... sua irmã irá fazer 69 anos no dia 04 de julho, no dia da Independência dos Estados Unidos da América (o cara sabia ate o ano!)... sua irmã em 2001 fora atropelada (deu para ver que ela andava com dificuldades)... foi bonito o abraço que ele deu na irmã ao apresenta-la para moça, carinhoso... e ao responder porque ela não ficava em casa ao invés de ficar esperando ele na rua, um das respostas foi que ela não gostava e a outra foi que no dia em que estiver num emprego recebendo 30 reais(!) (quem conta salário por dia? a maioria só sabe reclamar  como é pequeno o salário mensal!...Isso é outra realidade) por dia ficaria mais fácil, aí ele ia viajar, conhecer o mar... "antes de morrer quero ver o mar. Você conhece o mar?"

Daí o ônibus dele chegou e todos os outros detalhes desses instantes se perderam. Ficou foi a alegria com que ele encarava a situação. Com pouco tempo deu para ver que a vida dele não era das mais fáceis, mas independente da situação, foi de admirar a forma alegre como ele falava e a satisfação que ele passava com as coisas e fatos mais simples... Como quando falou do acidente da irmã, "o ano que vem faz dez anos (...) lá na Savassi, mas Deus não deixou ela ir"; "Hoje eu recolhi os óculos 3D no Diammond (...) muito legal, só criança (...); "você acredita que nunca vi o mar?(...) deve ser grande... sei não, aquelas ondas..."

Esse homem me deu uma lição de simplicidade hoje que não posso esquecer. Ah! E eu já vi o mar uma vez...

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